Neste caminho de Advento, tempo de especial interioridade para compreender e nos fortalecermos com as razões de nossa Esperança, que nos dão mais coragem de aprender a viver nesta pandemia, partilhamos os tópicos da bonita homilia do nosso querido Bispo do Algarve, que presidiu à Eucaristia neste segundo domingo: essencial, simples e prática!
No primeiro domingo do Advento, a Palavra de deus recordou-nos uma certeza – o Senhor vem! – e lançou-nos um imperativo: vigiai, preparai-vos para este encontro! Neste segundo domingo, a Palavra ajuda-nos a definir o como devemos preparar-nos para este encontro.
Na oração de Coleta do domingo passado dirigimos a Deus o pedido para que despertasse em nós uma vontade firme, para nos prepararmos pelas práticas das boas obras, para irmos ao encontro de Cristo. Neste domingo, nesta mesma oração, pedimos ao Senhor,que os cuidados deste mundonão sejam obstáculopara caminharmos generosamente ao encontro de Cristo. Trata-se, portanto, duma vigilância ativa, de um caminho que nos acompanha ao longo do arco da vida e que devemos percorrer de modo generoso e sem nos prendermos aos cuidados deste mundo.
Na Palavra de Deus deste domingo, pela voz de João Batista – preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas –escutámos uma proposta essencial nesta preparação: conversão, ‘metanoia’, transformação radical da nossa vida, dos nossos valores, da nossa mentalidade: movimento que leva a reequacionar a vida e a colocar Deus no centro da própria existência.
O que é que em mim, no que sou, no que penso, no que faço, impede o nascimento de Jesus no meu coração e na minha vida? Pela voz de João Batista, é o próprio Deus que me faz este convite, que me lança este imperativo. Todavia, temos de estar igualmente abertos aos que, como profetas de Deus na nossa vida, nos questionam e reclamam de nós idêntico caminho de conversão. São aqueles que nos acompanham neste caminho.
Aliás, nós próprios, pelo batismo, participantes da dimensão profética de Cristo e de todo o povo de Deus, devemos sentir-nos enviados a questionar o mundo de hoje e a ser voz de Deus junto dos irmãos. “Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Esta foi a missão de João Batista e deve ser a missão de todos os batizados: ser mensageiros de Deus, testemunha de Cristo Ressuscitado, anunciadores da Boa Nova, construtores do Reino que Ele veio inaugurar. Para tal, como João Batista, é preciso:
– vir ao deserto: o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão, e onde regressou tantas vezes (exílio) quantas foi necessário renovar a Aliança com Deus;
– assumir o estilo de Jão Batista: sóbrio, desprendido, austero, simples – convite claro a não se prenderaos cuidados deste mundo; a procurar o essencial,não se detendo no supérfluo,efémero e passageiro. É a aplicação prática dessa austuridadede vida e de renovação de atitudes, de comportamentos e dementalidade, que João pede aos seus conterrâneos;
– acolher Cristo como o Emanuel: o Deus-connosco e para nós, Aquele que batiza no Espírito Santo, força de Deus que transforma, renova e recria os corações dos homens.
A verdadeira conversão é aquela que o Espírito Santo opera em nós!
Atitudes em tempo de Advento:
– Disponibilidade, docilidade ao Espírito Santo;
– Interioridade/intimidade (silêncio) – cultivar a presença de Deus
– Caridade – atenção aos outros (dimensao profética mútua)
– Coragem – Conversão apoiados na acão do Espírito Santo;
Para tal é essencial:
– Parar para desenvolver a justa autonomia e a heteronomia, o que implica a arte de escutar, ver, ouvir e entender-me a mim e aos outros;
– Discernir cuidadosamente o que é essencial, o que é urgente face aos objectivos a atingir num determinado tempo;
– Ponderar e avaliar o fundamento e ordem dos valores perenos, provisórios ou circunstânciais;
– decidir tendo em conta qual é o bem maior ou o mal menos, envolvidos na decisão;
Ao longo desta segunda semana de Advento, procuremos libertar espaço do nosso ser para o Senhor. Só assim, permitimos que Ele venha ao nosso coração.